sexta-feira, 10 de maio de 2013


Uma história de Amor

Era uma vez uma moça chamada Amor, ela morava em uma casa muito grande, de cômodos largos, onde cabiam coisas infinitas. Nesta casa existia o que havia de mais apreço por ela, coisas que guardava ao longo de sua vida com todo carinho.

Em seu lar também recebia visitas. A Alegria era companhia constante e sempre trazia consigo a Esperança, o Otimismo e o Bom Humor para um bate papo. Como Amor é muito generosa, vez ou outra permitia a visita do Ódio, da Inveja e do Orgulho, mas esses não ficavam por muito tempo. Às vezes, quando ficava perto de Amor, o Ódio mudava de cor e preferia que o chamassem de Perdão. A Inveja se cansava de admirar os outros e logo ia embora, e o Orgulho, ah... o Orgulho ficava lá batendo o pé, ignorando tudo e todos, só não resistia aos quitutes deliciosos que Amor lhe oferecia com agrado.


Em uma noite de tempestade bateu em sua porta, com muita violência, uma outra visita, era o jovem Paixão. Assustada, Amor prontamente atendeu. Ele era muito espaçoso, logo foi invadindo a casa e rapidamente dominou a moça com seus caprichos. Na companhia de seu amigo Egoísmo não permitia a generosidade de Amor com os demais.

Assim, na medida em que Paixão crescia, tomava mais espaço da casa de Amor, expulsando as outras companhias. Aos poucos a Alegria foi embora, levando os inseparáveis Bom Humor, Otimismo e todos os outros amigos. Amor ficava num cantinho apertado enquanto Paixão e Orgulho dominavam sua casa.


Certo dia, ao chegar e encontrar a moça chorando nos ombros do amigo Esperança, Paixão se enfureceu de ciúmes e, na companhia da Raiva, destruiu tudo o que viu em seu caminho. Quebrou todas as coisas que Amor havia conquistado na vida: retratos, castelos, enfeites, bilhetes, espelhos, travesseiro, lembranças, roupas, cadernos, livros... quebrou tudo, por último, a lâmpada. Antes de sair estrangulou Esperança, sufocando-o até desmaiar. Em seguida deu uma surra em Amor e saiu desenfreado, deixando a moça sozinha, machucada e na escuridão.

Por muito tempo, não se sabe quanto, Amor ficou no escuro, sentindo muitas dores, principalmente em seu coração. Em uma tarde conseguiu se levantar e abrir uma fresta da janela e imediatamente o Desanimo pulou para dentro do quarto. Ao ver como a casa estava bagunçada percebeu que teria muito trabalho para colocar tudo em ordem. Quando conseguiu se levantar foi ajeitando a casa, colocou as coisas que restaram em seus lugares, colou os cacos daquilo que não queria se desfazer.

Passaram alguns anos e a moça ainda não havia consertado tudo. As paredes ainda estavam rachadas e a porta estava emperrada, bloqueando a passagem. Com muito esforço e com a ajuda da amiga Serenidade, Amor limpou toda a casa. Perdeu algumas coisas, jogou fora outras.

Ela decidiu ficar só para sempre, pois ainda precisava cuidar de suas feridas e dores que, desde a surra que tomara, tornaram-se crônicas.  Resolveu trancar a porta, reforçar a fechadura e se isolar. Vez em quando ouvia batidas fortes na porta, socos e pontapés, eram os arroubos de Paixão. Nessas horas Amor tremia de medo e não abria. Ficava quieta em seu canto, evitando se expor.

















Foi então que um dia tocaram a campainha, não socaram a porta.
A chamou pelo nome, não gritou.
Pediu para entrar, não invadiu...

Nessa hora, Amor foi inspirada por sua amiga Coragem a espiar pelo canto. Do outro lado um sorriso generoso se abria ao mesmo tempo que a porta. Amor tentou buscar nas lembranças quem era a visita desconhecida.

Percebeu que não era Paixão nem Dor, mas enfim outro Amor.