Uma
história de Amor
Era uma vez
uma moça chamada Amor, ela morava em uma
casa muito grande, de cômodos largos, onde cabiam coisas infinitas. Nesta casa
existia o que havia de mais apreço por ela, coisas que guardava ao longo de sua
vida com todo carinho.
Em seu lar
também recebia visitas. A Alegria
era companhia constante e sempre trazia consigo a Esperança, o Otimismo e o Bom Humor para
um bate papo. Como Amor é muito generosa,
vez ou outra permitia a visita do Ódio, da Inveja e do Orgulho,
mas esses não ficavam por muito tempo. Às vezes, quando ficava perto de Amor, o Ódio mudava
de cor e preferia que o chamassem de Perdão.
A Inveja se cansava de admirar os outros e
logo ia embora, e o Orgulho, ah... o Orgulho ficava lá batendo o pé, ignorando tudo e todos, só não resistia aos quitutes deliciosos que Amor
lhe oferecia com agrado.
Assim, na medida em que Paixão crescia, tomava mais espaço da casa de Amor, expulsando as outras companhias. Aos poucos a Alegria foi embora, levando os inseparáveis Bom Humor, Otimismo e todos os outros amigos. Amor ficava num cantinho apertado enquanto Paixão e Orgulho dominavam sua casa.
Certo dia,
ao chegar e encontrar a moça chorando nos ombros do amigo Esperança, Paixão se enfureceu de ciúmes e, na companhia da Raiva,
destruiu tudo o que viu em seu caminho. Quebrou todas as coisas que Amor havia conquistado na vida: retratos,
castelos, enfeites, bilhetes, espelhos, travesseiro, lembranças, roupas,
cadernos, livros... quebrou tudo, por último, a lâmpada. Antes de sair estrangulou
Esperança, sufocando-o
até desmaiar. Em seguida deu uma surra em Amor e
saiu desenfreado, deixando a moça sozinha, machucada e na escuridão.
Por muito
tempo, não se sabe quanto, Amor ficou no
escuro, sentindo muitas dores, principalmente em seu coração. Em uma tarde
conseguiu se levantar e abrir uma fresta da janela e imediatamente o Desanimo pulou
para dentro do quarto. Ao ver como a casa estava bagunçada percebeu que teria
muito trabalho para colocar tudo em ordem. Quando conseguiu se levantar foi ajeitando a casa, colocou as coisas que
restaram em seus lugares, colou os cacos daquilo que não queria se desfazer.
Passaram
alguns anos e a moça ainda não havia consertado tudo. As paredes ainda estavam
rachadas e a porta estava emperrada, bloqueando a passagem. Com muito esforço e
com a ajuda da amiga Serenidade, Amor limpou
toda a casa. Perdeu algumas coisas, jogou fora outras.
Ela decidiu
ficar só para sempre, pois ainda precisava cuidar de suas feridas e dores que,
desde a surra que tomara, tornaram-se crônicas.
Resolveu trancar a porta, reforçar a fechadura e se isolar. Vez em
quando ouvia batidas fortes na porta, socos e pontapés, eram os arroubos de Paixão. Nessas horas Amor
tremia de medo e não abria. Ficava quieta em seu canto, evitando se expor.
Foi então que um dia tocaram a campainha, não
socaram a porta.
A chamou pelo nome, não gritou.
Pediu para entrar, não invadiu...
Nessa hora, Amor foi inspirada por sua amiga Coragem a espiar pelo canto. Do outro lado um
sorriso generoso se abria ao mesmo tempo que a porta. Amor
tentou buscar nas lembranças quem era a visita desconhecida.
Percebeu que
não era Paixão nem Dor,
mas enfim outro Amor.
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